Mais um trabalho do curso: crítica ao novo disco da Björk. Foi preciso superar a falta de conhecimento a fundo da obra da senhora, mas acho que tendo em conta o tempo disponível até não ficou muito mau. Aqui está ele:
Em Vulnicura (One Little Indian, 2015), Björk regressa com um disco mais pesado e mais pessoal. Com a ajuda dos co-produtores Arca e The Haxan Cloak, a islandesa enfrenta a dor da separação do artista Matthew Barney através de um conjunto de canções mais cruas e directas do que aquilo a que já nos acostumou.
Inicialmente previsto para Março, Vulnicura, apareceu ilegalmente na internet no final de Janeiro e Björk acabou por lançá-lo de imediato no iTunes. Num texto publicado na sua página de Facebook, a artista assumiu que lançar um disco desta natureza (um breakup album) lhe pareceu de início como um pouco “auto-indulgente,” mas que mais tarde se apercebeu que poderia ser “uma ajuda, uma muleta para outros”, provando o quão biológico é o processo de cicatrização da ferida física e psicológica provocada pela separação.
Durante nove intensas canções, é precisamente isso que Björk comprova. A dor que resulta do processo de separação de um casal, de uma mãe que vê a sua família desmoronar-se. Desengane-se quem ache que, por ser um heartbreak album, Vulnicura é tristonho e melancólico. Há, obviamente, momentos de maior vulnerabilidade, mas há também momentos de extraordinária força. Não no seu sentido mais tradicional, mas sim a força de uma mulher que expõe as suas inseguranças, os seus medos e frustrações de forma tão clara (“These abstract complex feelings/ I just don’t know how to handle them”, ouve-se em “Lionsong”).
Tema sempre presente no disco, a família surge como o sonho que morreu, e os momentos mais sensíveis são precisamente sobre a filha, como canta em “Family”: “How will I sing us/ Out of this sorrow/ Build a safe bridge/ For the child out of this danger”. Em entrevista à Pitchfork, Björk assumiu que as mulheres são muitas vezes a cola que faz tudo permanecer junto e intacto, um trabalho invisível que diz não ser suficientemente reconhecido.
Desde sempre ligada à questão da igualdade de género (por militância da mãe que, conta, se recusava a entrar na cozinha) a islandesa falou da “batalha contínua” que as mulheres no mundo da música travam para serem respeitadas tanto quanto os homens. Em causa estava o facto de muita imprensa ter assumido que Arca era o produtor de Vulnicura, assim que Björk anunciou que o produtor venezuelano tinha colaborado no disco. Este tipo de confusão não é novidade para a artista que já em Vespertine (2001) tinha visto o seu trabalho de produção ser mal creditado.
Em “Notget”, já a meio do disco, ouvimos “Don’t remove my pain/ It is my chance to heal”, que à partida nos soa como uma honesta forma de aceitar a necessidade de enfrentar a dor como caminho para a superação. No entanto, Björk admite que passagens como essa são tentativas de se auto-aconselhar, de dizer a si mesma que vai ser capaz de ultrapassar aquela situação.
Num disco que foi claramente feito como exercício de catarse nada fácil, os beats de Arca e The Haxan Cloak servem de acessório aos arranjos de cordas e às letras íntimas de Björk, que trocou a sofisticação sonora pela emoção mais crua, por canções num formato mais tradicional. Vulnicura pode não ser um grande disco, mas não deixa de ser uma bela sessão de terapia.